Meu Amor
Lindo como a noite
E agudo como um susto
De uma trovoada
É meu amor
Completo de tudo
Clarão e profundeza
Superfície e escuridão
Convulsão, ternura
Mar revolto, beijo de calmaria
Ocioso amor a tarde inteira
Insaciável e sedento pela madrugada
Quando a tempestade prenuncia
A revolta da natureza
Meu amor me faz carícias no pescoço
Amor fidelíssimo ao extremo
E promíscuo como as estrelas
Na dialética dos desejos e pensamentos
Meu amor é maravilha
Com sorriso nos lábios
Esperança e juventude
Espalhando o corpo na minha cama
Meio a milhões de afagos
És minha única riqueza
E um paupérrimo amor
Nas horas mesquinhas
Nervoso amor, inebriado de angústias
Na insegurança banal do dia a dia
Mas tão autoconfiante em sua força
Que dá medo e remorso
Este amor causa inveja
E cruza as pernas para os olhos compridos
De tão lindo, tão suave
Como pluma de aves raras
E tão denso como um grito dentro d’água
Outrora sofrido como o tempo
Porque assim o deixamos
Pendurado nas horas
E cravamos nele nossas unhas
Entre pedras e espinhos
Amor espatifado em migalhas
Ao mesmo tempo inteiríssimo
E eterno como um diamante
Morto, velado em lágrimas
E ressuscitado toda noite
Como o perfume das acácias
No feliz espetáculo do sexo
De quem é este amor?
É transitório, passageiro
Constante, imutável
Caminhemos lado a lado
Mãos dadas pelo tempo
Sabendo que a distância tempera
E põe em nossa boca
O gosto indelével da saudade
A alegria do retorno
No brilho dos teus olhos
É o sorriso que tua alma contempla
Abracemos-nos
Beijemos-nos
Façamos amor
E depois juntos, olhemos para o céu
Neste pedaço de eternidade
Viver a vida
No seu doce e amargo
E em constante devenir
Que este amor prossiga
Então este desejo infinito
Ponha pedras nas más lembranças
E grite, fale impropérios
E depois se adoce com a desculpa arrependida
Numa nova canção apaixonada
E nossos filhos
Nos vingue nessa terra
E nos transcenda no universo
Alterando para o bem
Continue a caminhada
Sempre na iminência do fim
Mas com força e vontade
De ser infinito.