ELE VEIO COM UMA ROSA NA MÃO
PARTE DESSA CENA FOI POR MIM PRESENCIADO, OUTRA PARTE FOI CONCEBIDA PELO QUE IMAGINEI. aconteceu no estacionamento do supermercado Extra(Santa Rosalia) da minha cidade, para quem é de Sorocaba sabe onde fica obrigado a todos.
Eu sempre ia ao mesmo shopping. Ora para abastecer minha despensa, pagar contas, comer um lanche rápido ou simplesmente para dar uma volta, olhando as lojas do corredor comercial. Naquela noite fui ao shopping, porque não conseguia ficar dentro do meu apto. . Aquela semana tinha sido muito difícil para mim. No emprego, um novo chefe querendo mostrar serviço, não dava folga pra ninguém. No transito levei uma multa por não parar no semáforo, que estava no vermelho, porque eu estava nervosa e não percebi, sei que foi um ato inconseqüente meu. No estacionamento do prédio tinha outro carro na minha vaga e eu não sabia de quem era e nem o porteiro quando eu o avisei. O sinal da internet estava tão ruim que caia toda hora. Meu vizinho tem um filho que gosta de ouvir funk num volume bem alto e ainda o capeta do moleque canta junto e muito mal por sinal e acompanha todas as musicas do cd.
Resolvi: peguei meu carro e fui abastecê-lo e aproveitar para dar uma volta pelos corredores das lojas, andar a toa, olhar vitrines. Quando estava abastecendo, o frentista descuidou e transbordou o tanque de combustível. Quando percebi o ocorrido, nem saí do carro pra ver o estrago. Rapidamente ele jogou água na lataria do carro pra não deixar marcas. Pediu mil desculpas pelo acontecido. Eu devo ter feito uma cara daquelas, pois vi a cara de espanto do frentista. Era só o que me faltava pensei: parece que aquilo tinha sido a gota d’agua dos maus acontecimentos ruins daquela semana. Uma lagrima correu pela minha face. Um sinal do meu desespero, da minha angustia. Parecia que todo o universo estava contra mim. Mesmo assim estacionei o carro numa vaga. Respirei fundo e fui dar umas voltas no shopping. Depois de uma hora andando e olhando sem direção ou algo que chamasse a minha atenção, voltei ao estacionamento para ir embora. Quando fui chegando perto do carro, percebi que alguém estava ao lado dele, muito próximo alias e um pouco agachado. Parei e fiquei observando a distancia. Era o frentista que com um balde com água e sabão, lavava com vontade o lugar onde havia transbordado o combustível. Quando ele percebeu a minha presença, ficou todo sem jeito, envergonhado e me falou num tom muito triste:- a senhora me perdoe pelo que aconteceu, sei que a senhora não tem a nada a ver com minha falta de atenção. Não estou querendo justificar, mas essa semana a minha namorada me deixou por outro e não consigo coordenar nada direito, estou ate com medo de perder o emprego. Gostaria que a senhora não fizesse nenhuma reclamação ao meu chefe. Veja como ficou, não ficará nenhuma mancha na lataria. Eu terminei o meu turno e vi onde a senhora tinha estacionado e vim lavar o seu carro, a senhora me desculpe mais uma vez.
Aquele gesto de atenção me deixou sem ação. Comparei meus problemas com os dele. Tenho um ótimo emprego fixo, um ótimo apto, um carro novo, sem namorado no momento, mas por opção, não poderia tomar uma atitude de fazer uma reclamação contra ele. O que eu tinha feito durante a semana para amenizar o que me deixava tão aborrecida? Se fosse eu a frentista, será que eu estaria fazendo o mesmo que aquele rapaz fazia com o balde com água, sabão e um pano na mão? Novamente uma lagrima soltou-se dos meus olhos. Disse-lhe com a voz embargada que podia fica tranqüilo, pois eu não iria fazer uma reclamação do ocorrido. Dei a volta no carro e entrei. Quando estava ligando o motor ele bateu no vidro me chamando. Abri um pouco a janela e perguntei o que ele queria. Ele me falou num tom carinhoso:- a senhora me perdoe mais uma vez, isso não é uma cantada, mas percebi que a senhora já derramou duas lagrimas só agora, daí eu pensei:- talvez essa moça também tenha perdido o namorado e está muito triste;- Por favor, aceite essa rosa para que a senhora fique alegre e boa noite. O rapaz saiu rapidamente de perto do carro e nem vi para que lado ele tinha ido. Eu ali com aquela rosa na mão, dada por um desconhecido cheio de problemas, com medo e com a única intenção era de me agradar.
As minhas lagrimas haviam tocado o seu coração e eu agora estava banhada de mais lagrimas e de remorsos por ter deito uma cara daquelas, no momento que ocorreu o acidente com o combustível. Creio que as angustias dele são bem maiores que as minhas e mesmo assim teve forças suficientes para demonstrar uma preocupação comigo. A namorada que o tinha abandonado não sabia o que estava perdendo.
Aquilo me despertou uma vontade de amanha bem cedo, comprar uma dúzia de rosas e levar para o meu emprego, dar uma especial para o meu chefe e para quem mais necessitasse. Uma rosa também para o filho do meu vizinho, pois algumas vezes eu já escutei os pais dele discutindo, falando em separação e também uma rosa para o carro que estava estacionado na minha vaga de garagem.
O poder do gesto daquele simples frentista me conquistou. Ele havia me dado a rosa não pelo combustível que vazou, mas pelo que ele entendeu que poderia ser aquelas lagrimas. Talvez tivesse visto nelas, as lagrimas que ele já havia derramado pela separação.
Ao invés de passar somente água e sabão na lataria do carro, ele lavou minha vida quando ELE VEIO COM UMA ROSA NA MÃO.
Di Camargo, 15/05/2010