Meu coração de Alecrim
Os pensamentos me invadem
Vão buscando o meu passado
Que está dentro de mim
Nunca vai ser soterrado
Entrelaça-se permeando a memória
Dá sentido
Tem trajeto tem história
É parte do meu viver
Fiquei feliz ao vir morar numa cidade
Felicidade em Natal senti enfim
Tem sol e mar
Também muita energia
Que irradia das pessoas do lugar
Deixei amigos pelos becos do passado
Muito cedo o meu destino eu fui mudar
Lá no Alecrim ficou tudo lá cravado
Os momentos que vivi neste lugar
As brincadeiras de queimada e esperanças
Doces lembranças que o tempo vem saudar
Eu bem feliz com meu sonho de criança
Meus pensamentos e o brilho do luar
A menina já de mim se desfazendo
E a mulher já surgindo em seu lugar
Se descobrindo foi mudando a silhueta
Foi de veneta o seu jeito de amar
Beijos roubados, pelas ruas escondida
Sentindo culpa pelos beijos inocentes
Era amor, pulsação, era só vida
Que é reprimida em toda nossa criação
Hoje estou certa de que amo a quem eu quero
Eu não venero nem pastor nem sacristão
E não quero bitola, religião
Falsa moral vem daquela dinastia
Pederastia sem pudor
Que traição
Por isso trago hoje bem guardada na memória
A minhas história tem haver com o Alecrim
Por um tempo eu pensei ter esquecido
Por ter vivido um momento tão ruim
No alecrim a minha mãe ter falecido
Felicidade foi-se embora para mim
Lembro-me dos sábados das tardes animadas
Nas calçadas as cadeiras a enfeitar
Ouvindo a voz da minha mãe mulher amada
Com os seus netos a mimá-los um a um
Lembro os cafés e também as tapiocas
Aquela essência e sabor não têm iguais
Com o sorriso estampado em seu rosto
Hoje o desgosto molha o pranto quando vejo
Que no Alecrim não encontro quem desejo
Não tenho abraço
Nem tenho mais o beijo
Da mulher Santa
Que Deus criou para mim
Porque levaste a minha mãe tão cedo embora
Se para sempre a queria junto a mim?