Mentiras, Verdades e Vídeotapes
A fonte de tuas mentiras, essas tuas mentiras tão doces, fascinantes e encantadoras mentiras reais,
São frescas águas a saciar minha sede, esta insaciável sede de amor que há séculos me envenena e atordoa.
Desisti finalmente de procurar desvendar as tuas parcas verdades. Por mais que me doa
Reconheço: são as tuas muitas mentiras que me enfeitiçam; que me fazem te querer mais e mais.
Tu mentes com tanta graça que me é impossível manter hasteada a bandeira de minha ira, esgarçada ira sem tino.
Teus luzidios olhos, mantras por essa mulher mentirosa, um xamã é portador de meu sagrado pedido.
Chamas de dúvida incendeiam a minha alma, espinhos de desespero estão em minha carne incrustados, vídeos tapes de angústia são outra vez reprisados.
Insistentes mentiras galopam em manada. Só há verdade em teus beijos, em teu sexo sem par, em teus gritos sem nexo em nosso quarto fechado.
Mentiras, verdades e vídeotapes, é o script que na vida carregas, a arrastar-me em volta de ti, naufragado em tua fala-sereia, de minhas verdades e de mim mesmo esquecido.
Nós, humanos, temos um comportamento muito engraçado. Como somos seres dotados de Razão vivemos sempre em busca de uma Verdade que não existe, esquecidos de que somos parte de um Universo cuja matriz é a Ilusão. Daí talvez venha essa nossa ânsia por coisas concretas, por querer eternizar o que, em si mesmo, é efêmero. Para não nos emaranhar no labirinto da loucura, resta-nos a saída de vivermos um dia de cada vez, extraindo de cada dia o melhor que ele nos possa dar.
Cidade dos sonhos, uma estranha manhã de final de abril de 2010.
João Bosco