Na Sacada do Tempo
Tanto em momentos tristes,
Como em momentos risonhos
Encaro-me, acusador: dedo em riste.
Escorando-me na sacada do Tempo,
A esperar, do vento amigo,
Presságios de melhor augúrio,
Que afastem a noção de perigo.
Ouço o cantar dos pássaros em minha janela;
Peço-lhes, aflito, “-dêem-me notícias dela”,
Quase sem voz, num murmúrio.
Este sentimento que tenho guardado comigo,
Estilhaça-se em lágrimas que não mais quero esconder;
E transborda; irrefletido, numa torrente impossível de conter.
Suas águas encontram amparo na tépida represa de sonhos
Escondida entre grinaldas de jacintos em flor,
Construída pelo Castor de olhos mansos,
Em que se travestiu meu amor.
É nessa represa tão calma,
Que navega a caravela de minh’alma,
Com uma carga preciosa, indolor.
A carga que trago aqui dentro,
É uma carga de enamoramento
Em busca do amor que mereço,
Um amor sem reservas,
Um amor que procuro desde o começo.
È formada de muito carinho,
Faz na confiança seu ninho
E lastreia-se em cumplicidade.
É carga de reciprocidade,
Carga que o mundo dispensa,
Mas que para nós representa
Viver em sólida e plena verdade.
Quero este amor de novela,
Tarefa das mais complicadas;
De velas soltas, enfunadas,
Trafega célere, minha caravela,
A enfrentar tempestades, procelas,
Rumo ao seu novo endereço.
Há alguns anos tomei conhecimento da teoria do ganha-ganha, sistema em que não há disputas, sendo estas substituídas pela parceria. Achei maravilhosa essa forma de se viver e trabalhar pensando em ganhos conjuntos, numa superação do viver de forma egoísta. Para uma relação a dois, não há nada mais indicado. Amar é a melhor maneira de se praticar o ganha-ganha.
Vale do Paraíba, madrugada do primeiro Sábado de Maio de 2009
João Bosco