Bifurcação
Bifurcação
Duas mulheres, dois diferentes caminhos, duas vontades diversas.
Duas lindas mulheres (Uma, o tempo todo presente: a Outra sempre distante).
São duas mulheres de sonho, (um sonho sonhado por qualquer amante)
Desses sonhos da gente ficar acordado até tarde, de querer viver a vida sem pressa.
Duas incompatíveis histórias de vida; duas dispersas nuances - a trajetória dessas mulheres tão lindas.
Dois diferentes quereres, o destas mulheres ornadas de estranhos poderes, de um transformar-se constante.
Ambas adoram poesias, (poesia que também elas são) uma tem um riso em cascata; a Outra é uma permanente infante.
Aquela mulher de Ontem não é a mesma de Hoje: é uma metamorfose evidente. Uma sai dentro da Outra, sempre a nos dar boas-vindas.
Com Uma durmo feliz, com a as artes da Outra fico a cismar. Uma se acomoda em meu peito, a Outra atrás das cortinas.
Uma me fala: “estás dividido”, a outra me xinga: “bandido!” e diz me querer por inteiro, com beijos de lágrimas de sal.
Uma entre outros beijos me diz: “gosto de teu jeito tão meigo, de como cuidas de mim e entendes os meus problemas - para mim tu és vital”.
A outra num eterno anticlímax projeta grande final, ensaia outro dilema, acena outra despedida - mergulha em ambigüidades no lago de suas retinas.
Elas são mulheres tão díspares na forma escolhida de amar, Uma tem ares de garça, a Outra o encanto dos beija-flores.
Não há que se fazer distinção: são mulheres especiais, aparentemente tão desiguais, antípodas letras postas em uma mesma canção.
Numa eu amo o carinho, a devoção compartida, o senso de humor sem ressalvas, a rouca voz estendida na boca e o se entregar com paixão.
Já na Outra amo o inusitado, as ações tão fora de foco, o jogo de mostra-e-se-esconde, uma nostalgia ultrapassada e um pendão para extintos amores.
Em Uma o beijo é tão doce, os palpites tão incisivos, o abraço quente e apertado – o encontro nos cobertores tem braços e pernas perdidos.
Com a Outra as promessas são muitas, as realizações tão prosaicas, um interminável cerca-lourenço, reclamações onomatopaicas, um vai-e-vem sem parar.
No meio de Uma e de Outra sinto-me um tanto confuso: Uma não diz o que quer de uma vez, Outra diz querer (mas só no discurso; fica estática, pregada no mesmo lugar.)
E é nesta bifurcação que me encontro: dois caminhos que um preciso escolher (a certeza dos beijos de Uma, os muitos planos feitos com Outra) e dar a vida um único sentido.
Como sou um homem de muitas perguntas estou sempre a buscar novas respostas para velhas questões. Às vezes encontro algumas, mas, quando isso não acontece costumo voltar à carga com mais ímpeto ainda. A pergunta da hora é: Qual o ideal de Amor que queremos para nos aquecer nos dias de frio e nos alegrar em nossos momentos de tristeza? Quando eu me deparar com essa resposta, terei encontrado o caminho escolhido diante de minha bifurcação.
Cidade dos Sonhos, manhã de Sábado friorento de Abril de 2010
João Bosco