Filho das Águas
Fui passear à beira do rio
Numa noite quente de verão,
Pensamentos que vinham na contra-mão
Faziam meu corpo tremer de calafrios.
Estava sozinho e deveras maltratado,
Nada em minha vida consolidou-se,
De repente vejo saindo da água doce
Um vulto feminino que parecia abandonado.
Sentou-se numa pedra e começou a chorar,
Seu sofrido sentimento me contagiou,
Aproximei-me e perguntei se o pranto era de amor
E ela respondeu-me que o pranto era do mar.
Era uma linda mulher em forma de peixe
Que o oceano expulsara por desejar ser humana,
E logo eu com minha vida triste e profana
Recebi das águas do rio este lindo enfeite.
Ofertei-lhe um forte abraço e a consolei,
Ela deitou sua cabeça em meu ombro largo,
Depois contou-me carregar consigo enorme fardo
E prontamente meu coração e meu juízo lhe entreguei.
Como havia sido expulsa da águas salgadas,
Seu castigo era viver eternamente pelos rios,
Logo senti senti em mim forte arrepio,
Pois a sereia carecia de ser amada.
E tomei-a nos braços com ardor,
Ela me correspondeu inteiramente,
Beijei-a repetidas vezes pacientemente
E desvendei em seu hálito sintomas de amor.
Apaixonei-me perdidamente pela sereia
Que precisava retornar às águas do rio,
Não percebi que ela estava em noite de cio
E fizemos amor rolando pela areia.
Durante longos meses não a vi mais
Embora a esperasse todas as noites,
Nas tempestades e nos açoites,
Lá estava eu carregando uma esperança fugaz.
Exatamente nove meses depois ela voltou
E trouxe consigo uma criança nos braços,
Disse-me chorando num forte abraço
Que ali estava o fruto de nossa noite de amor.
Era um menino e tinha forma humana
Que ela me entregou para que eu criasse,
Tinha os olhos azuis da sereia e em contraste
Seria um grande homem e de muita fama.
Construí uma casa e montei um lar,
Vivo com meu filho e sou feliz,
Embora haja em mim uma cicatriz,
Pois a sereia fora perdoada e voltou para o mar!