Cântico das Lágrimas
Que faz o homem no dia do seu nascimento?
Não é porventura chorar?
As lágrimas fazem e farão parte da sua vida,
E mesmo na morte o haverão de acompanhar.
Quem nunca chorou o amigo perdido?
O ente querido sepultado?
O amor que morreu sem ter nascido,
Ou a esperança perdida e o sonho abandonado?
Lágrimas podem ser de saudades,
Ou fruto do desespero.
Algumas são filhas de desastres,
E outras nascem no degredo.
Existem as lágrimas provocadas pela solidão.
Algumas são pomos de felicidade.
Há prantos vertidos sem razão,
E choros vazados sem vontade.
Tem aquelas que são companheiras da descrença.
Outras são os remédios para o enfermo.
Umas se mostram como estigma da doença,
Rolando em torrentes sobre um leito.
Lágrimas são derramadas pela vida,
Outras abandonadas a própria sorte,
Algumas tecem as paginas da dura lida,
Eivando a sina, o destino, a própria morte.
Elas são os contornos do lamento.
São as molduras de fundas agonias.
Delas ninguém está isento,
Para elas não existem anistias.
Algumas são espectros das dores,
Dores que assombram a terra.
Outras são confissões de quem erra,
Ou de quem no mundo vive a guerra.
Elas caem dos olhos das crianças.
Caem dos olhos da mulher e do homem.
Nos rostos dos velhos desenham os vincos;
Marcas que jamais se consomem.
Elas ignoram se somos ricos
Ou se somos desgraçados e pobres.
Não interessa qual seja o teatro da vida,
Pois não há quem não chore no orbe.
Até Deus chorou um dia,
Diante tumulo do amigo sepultado;
Lamentou com lágrimas por Jerusalém,
Retrato do mundo desolado.
Pais choram por seus filhos.
Filhos choram por seus pais.
As lágrimas parecem o idílio,
De dores profundas e tormentos abissais.
Mas, as mais belas e trágicas desse cântico,
Digo-lhes: são as lagrimas do amor.
São elas o espírito, o estro romântico,
Que me inspirou escrever com tanto ardor.
Lágrimas são vertidas, mudamente, pelo amor,
Tornando-se voz de coração apaixonado.
Em silencio o amor por elas falam,
Aos ouvidos de quem por ele é amado.
Aqui verto as minhas lágrimas em poesia,
Ou talvez as chore em profunda solidão,
Quem me dera verte-las em seus lábios,
Para não mais as ter que verter pelo chão...