Blackbird
Para um belo pássaro que um dia quis a meu lado.
Um dia um pássaro negro
Pousou em minha janela.
Como se viesse do nada
Meio que em um repente
Como bater de asas de pássaro
Que pássaro de fato era.
Chegou como quem não quer nada
Meio de mansinho
Foi se fazendo necessário
Como cantar de passarinho
Em minha janela
Do começo da noite
Até a madrugada
Nunca ouvi seu canto, na verdade
Apenas vi as notas de sua canção
Belas em minha janela
Não precisavam de ritmo
Nem de melodia
A música já estava em mim
E, se vinha do belo pássaro negro,
Como não poderia ser bela?
E eu me encantei
Já contava as horas
Esperava o fim do dia
Meio que em idéia fixa
E tudo era alegria
O belo pássaro negro
Pousava espontâneo
Em minha janela
O frio se esquentava
O calor se abrandava
O mundo ganhava cor
E de todas as cores
A negra era a mais bela
Pois a beleza estava no pássaro
O belo pássaro negro
Que no final da noite
Pousava em minha janela
E eu quis ter o pássaro
Nós dois em uma gaiola
E achava que ele queria o mesmo
E falei sobre o que sentia
E abandonei o que me prendia
Pois só queria a ele
E achava que só a mim ele queria
Mas não foi assim
Ele se prendeu a outro
E eu na minha agonia
Só pude desejar que ele voasse feliz
Pois o pássaro só é belo preso
Se for por vontade própria.
Forçada em gaiola
A sua beleza definha.
O tempo passou devagar
Achava que já não me importava
Alguns pássaros passaram por mim
Sem importância, apenas diversão
Pois não tinham o mesmo sorriso
Até que hoje ouvi de novo a música
Que tantas vezes toquei
Pois sabia que o pássaro sempre a ouvia
E vinha depressa e sem medo
Pousar à minha janela
E não pude deixar de sentir saudade
E quem dera tivesse ouvido o canto
O canto do belo pássaro negro
Que voou
Para dentro da luz da noite
Escura e negra