VOLÚPIAS
VOLÚPIAS
Wilton Porto
Em algum momento do teu passado
No rubro piano da tua sala
Alguém lhe dedilhou uma sonata.
E no deliroso encanto das tuas papilas
Entraste em êxtase se desmanchando em gozo.
Muitas noites então regadas a vinho
E acordes perfeitos no leito da cama
Fizeste-te de diva a mais fogosa dama
Sem tomares cuidado com os desalinhos.
Em tantas volúpias juventude em alta
Sem se aperceber dos traços volúvel
Tudo em ti era ouro ou prata
E os sussurros o deus insolúvel.
Chegou o dia em que o Amor é tudo
E um afável olhar vale mais que ouro.
Não queres ver o piano mudo
Mas entende que espírito é mais que osso e couro.
Entre as estrelas há quem seja puro afeto
Que silente se dá sem os arroubos da orgia.
Que fora forjado para servir no gueto
Fazer das valas imundas um mundo de poesia.
“Se houve quem transformasse o sol em mancha amarela”
Reafirmo que há quem possa pintá-lo de outra cor.
“Que pegando da mancha amarela cria o próprio sol”
Porque do SOL ele viera para dotar-te de Amor.