A Tríade do Amor

Para mim estes três textos definem o que é o Amor.

O primeiro retirado da Bíblia Sagrada, em I a Coríntios 13, fala do Amor universal, em seu estado puro, aplicado a todos os seres.

Os outros dois de Vinicius de Moraes - Soneto de Fidelidade e Soneto de Separação. Falam das relações amororosas entre duas pessoas.

Vejo que estes textos encerram em sua beleza a importância, o zelo, a dedicação e a paciência que só as relações de amor exigem.

Acima de tudo o amor

Ainda que eu falasse línguas,

as dos homens e dos anjos,

se eu não tivesse o amor,

seria como sino ruidoso

ou como címbalo estridente.

Ainda que eu tivesse o dom da profecia,

o conhecimento de todos os mistérios

e de toda a ciência;

ainda que eu tivesse toda a fé,

a ponto de transportar montanhas,

se não tivesse o amor,

eu nada seria.

Ainda que eu distribuísse

todos os meus bens aos famintos,

ainda que entregasse

o meu corpo a chamas,

se não tivesse o amor,

nada disso adiantaria.

O amor é paciente

o amor é prestativo

não é invejoso, não se ostenta,

não se incha de orgulho.

Nada faz de inconveniente,

não procura seu próprio interesse,

não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a injustiça,

mas se regozija com a verdade.

Tudo desculpa, tudo crê,

tudo espera, tudo suporta.

O amor jamais passará.

As profecias desaparecerão,

as línguas cessarão,

a ciência também desaparecerá.

Pois o nosso conhecimento é limitado;

limitada é também a nossa profecia.

Mas, quando vier a perfeição,

desaparecerá o que é limitado.

Quando eu era criança.

falava como criança,

raciocinava como criança,

pensava como criança.

Depois que me tornei adulto,

deixei o que era próprio de criança.

Agora vemos como em espelho

e de maneira confusa;

mas depois veremos face a face.

Agora o meu conhecimento é limitado,

mas depois conhecerei como sou conhecido.

Agora, portanto, permanecem estas três coisas:

a Fé, a Esperança, e o Amor.

A maior delas porém é o Amor.

Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto De Separação

Vinicius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente

Elias F Mourão
Enviado por Elias F Mourão em 20/01/2010
Reeditado em 14/08/2010
Código do texto: T2039961
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.