Vintém do teu olhar

Vintém do teu olhar

________________ Magno Aquino Miramontes

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Ensaiei horas a fio a minha fala

Dediquei-me com afinco

Insisti muitas caras

E bocas

Investi n’outros trejeitos

Nem tão meus

Pra te agradar

Pra te ver olhar

Mas qual nada

Nunca olhas

Ataviar o teu dia

Eis meu plano

Tua cama enfeitei

Decorei enorme texto quintanesco

De Bandeira herdei a dor

Adornei ceciliamente

Cada verso e pausa

Com voz de fada menestrel e anjo

Vesti-me de intrépido

De insólito

Quase estúpido

Pra te agradar

Pra te ver olhar

Mas qual nada

Nunca olhas

Pintei a cara

Desandei a boca

Criei tipo

Troquei nome

Mudei hábito

Deixei casa amigos

Pra te agradar

“Até morri muitas vezes

Pra ressuscitar “melhor”

Pra te ver olhar

Mas

Qual nada

Nunca olhas

E se olhas finges tão

Bem ou mal me tornei teu

Pronto e perto sem igual

Ofereço-me com as damas

Da noite dia hora qualquer

Pra te agradar

Pra te ver olhar

Mas

Qual nada

Nunca olhas

Ignora até o fado que aprendi

Pra ti

Desmerece o sentimento

Da angústia que sustento

(Rima infame!)

Pra te agradar

Pra te ver olhar

Mas

Qual nada

Nunca olhas

Olha aqui moça

Qualquer hora dessas

Me canso

Nunca mais canto

Nem tento mais te agradar

De esperar inda me enfado

De sonhar-te me abalo

De pensar quem vens desisto

De achar me perco e então

Faço verso pra primeira

Virgem louca ou rameira

Dou-me inteiro

Pra essa ou aquela que me der

Um vintém que seja

Do olhar teu que não tenho

Debruço-me nesse verso

Ameaço

Prá te ver

Mesmo sem me olhar

Nunca olhas mesmo

Se pudesse desfaria tantos versos

Que faço pra dizer da dor

De fazer tanto

Pra te agradar

Pra te ver olhar

Mas

Qual nada

Nunca olhas

E

Se olhas finges tão

Que nem sei se quero

Descobrir

Se um dia olhou

Sem se perturbar

Com esse fazedor de verso

Mas qual nada

Mudei meu fim

Pra te agradar

Pra te esperar

Pra desistir de desistir