O som de uma lágrima

Lágrima...

Desliza pela minha face, molha o meu rosto.

Traduz meu estado de espírito, minha agonia.

Você nasce num parto de dor, gerada pelo desgosto,

É expelida numa ânsia... Você é minha companhia.

Lágrima...

Água límpida, autêntica, cristalina e verdadeira...

Quero conte-la e sufoca-la dentro do meu peito

Desejo refrear todas minhas emoções, agonia passageira...

Tento tira-la da minha vida... é só isso que tenho feito.

Lágrima...

Dos sonhos dourados, mas agora esquecidos.

Das esperanças todas pelo tempo dissipadas.

Fica o gosto amargo de todos esses anos vividos...

Você se confunde com a saudade, é uma ternura malvada.

Lágrima...

Você é alegria e tristeza, carinho e obsessão...

Nada é mais terno, nada é mais desolador.

Impede a voz, estrangula a alma e embaça a visão.

Símbolo de tantas coisas... da felicidade a de uma dor.

Lágrima...

Você é muda, surda e acho que não tem som.

Como todas as águas límpidas e verdadeiras,

Elas murmuram no regato, cantam nas cachoeiras.

O seu silêncio é profundo, calado, sem nenhum tom.

Lágrima...

De gosto salgado lembrando o mar imenso,

Nunca ninguém ouviu o seu ruído, seu lamento.

Só posso senti-la a me envolver como num incenso,

Molhando meu rosto, transpirando sofrimento.

Ah... lágrima minha...

Eu tenho suas marcas, eu conheço seus caminhos por viver só...

E se por acaso um dia, eu possa escutar a sua voz,

Saberei então que você, não é mais você... estarei livre da prisão.

Eu serei a lágrima... e você, eternamente a minha solidão.

Dorival C. FERNANDES

No Leblon em Pontal do Paraná em 28 de fevereiro de 2000

... " um dia com gosto de lágrima "..