SOB O OLHAR PERVERSO DO AMOR
Desejar-te tanto
pele, alma, lábios
querer vestir-se com as tuas dores
querer ser balsamo
orvalho revigorante
para teus exaustos sensores
Mais eis que da tua fausta bandeja
só caem migalhas
entre cascas barrentas e amargas de aipim
encerradas num, bom dia!
Tépido e sem cor,
morno assim
Parca ração
quando a tua chuva não beija á tempos
as searas ressequidas
e o vazio das tuas mãos ausentes
a esmurrar-me já nas cordas,
impiedosamente
Resta recolher resignado
espalhados pelo carpe,
sem mais o pulsante brilho,
estilhaços de um coração de acrílico
Arde n’alma a angustia
quando não podemos reter o azul
e o crepúsculo chega vestido de lírio
pingando fogo
vazando delírio
e derramando laminas famintas
em vão
os olhos suplicarem colírio
abraça-me a sensação
de “contornos sem essências”
o de Clarice Lispector mesmo
ali bem perto do
coração estilhaçado
a sensação de a alma
o ser, a vida, o todo
sentir e arder
como a pequena e ingênua aranha
que trêmula e palpitante
encharcada de álcool e chamas vorazes
esperneia e crepita em angustiante dor
sob o olhar perverso
do moleque tirano
que se chama Amor.
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