Não sei do que foram feitas minhas palavras
Não sei de onde veio o mundo em que vivo
Tenho perdido sorrisos entre travessias abandonadas
Que ficaram do outro lado dos caminhos sem margem
Às vezes tento lembrar-me de minha infância
Mas como nunca tive asas naturais
Andei voando com asas de cera
Que encontrava nas caixas de lápis sem cor
E por mais que voasse na distância perfeita
Entre o mar e sol
As asas de cera e sem cor que me vestiam
Eram derretidas pelo calor da minha solidão
Todos os dias mergulho na imensidão
Para encontrar o tesouro que enveredou para longe
Apesar de não acreditar no infinito enquanto dure
Vou tateando as paredes sem vida do meu céu
Quem sabe uma hora encontro seu rosto no aeroporto
De frente pro mar que engole os sonhos sem paraíso
Deixando as vidas que sobraram cada vez mais isoladas
Sem ter para onde seguir na esperança de refazer minhas praias
Há muito tempo que estou neste lugar ermo
Desde que achei que poderia tentar viver
Na crença de que a felicidade se encontrava
Nos profundos olhos que eu ainda iria conhecer
Talvez um dia eu entre pela sua porta
Depois de passar pelo portão que estava aberto
Para quem tivesse a pureza de amar seu coração
E viver uma vida de paz e felicidade duradoura
Ficarei sorrindo para o espelho
Até esse inverno passar olhando as folhas derretidas
Quando busquei a luz da minha vida
Com as asas de cera feitas de lápis sem cor