Tua presença

Seus olhos, num sutil olhar,

acaso se perdem nos meus,

que aceitam, sem pestanejar,

querê-los, mergulhar nos seus...

Noites e dias chegam,

e você ainda permanece comigo,

são lembranças que em mim vagueiam,

mais de amor, que de amigo...

Releio as bocas que por mim passam,

repetem seu nome, seu cheiro, sua face,

querem minha loucura e constatam,

que nada mais faço, por um disfarce...

A sede intensa da tua presença,

inunda meu céu, meu compreender,

sou a escrava da tua sentença,

ainda respirar, esperar, temer!

Temer que os negros olhos não me vejam,

que se esqueçam do negrume dos meus...

todas as dores que já em mim latejam,

repetidas, vão ensaiar o adeus!

Mas você ainda me vê,

inclina seu corpo num movimento,

tem em si, o meu poder,

o meu amar, meu contentamento...

Beija a boca num gesto louco,

saudoso, fulgaz e ardente,

como se o distanciar ainda à pouco,

fosse entrecortado e dormente.

Uma lágrima gélida nascente,

salta à minha face jubilosa,

acredita, percebe e sente,

que o amor a encontra formosa.

Os meus braços se redem afinal,

te enlançam e acarinham sem pudor,

és meu anjo, meu sonho real,

pois sempre te aqueces com o meu calor.

Em seus braços, o sol brilha,

a lua dorme e a vontade estremece,

quero ser só uma trilha,

que te faz seguir para outra messe.