De tanto amar
Teu beijo, de tão delicado, é quase uma prece pagã, asa de pássaro nascendo, pérfido recato - indevido, insensato.
Virginais perfumes de flores distraídos em ruas incertas, pedaços de noites inquietas, travestem-se em tardes sutis.
Córregos murmurando nas matas, cartas de tarot abstrusas, em falas confusas de amor - estrelas escrevendo o porvir.
Muezim clamando na torre, olhos fiéis dardejando, lábios febris desejando, seios erguidos pro céu, liquefazem rebelde palato.
Lago tranqüilo, sereno, peignoir em teu corpo pequeno, quentes promessas ocultas, posterga em teu ventre a magia.
Falar sem palavras é preciso, voar em olhares concisos, permitir o emaranhar de tuas mãos
Kamikaze a sitiar tuas entranhas, a garganta sequiosa entregas, a mordida feroz em desvãos.
Alienígena, este abraçar tão caótico, enclausura exótico sabor, detém o furor do Titã, prolonga incessante agonia.
Um sentir bem mais novo me envolve, um querer diferente me encanta, a esculpir tua voz, teus cuidados.
Em resgate carrego teu cheiro, tua imagem é parceira constante, quando falo a sós, tu respondes; és amiga, companheira e amante.
É intricado, difícil, canhestro, verbalizar amar assim tão completo; um olhar, um sorriso bem perto, mitiga longas horas distantes.
Tua voz, sussurrante, me pede mais calma, me contas da vida, de coisas banais, conhecidas; há feitiço pairando em tua boca, um sinal em teus olhos fechados...
...Não te vejo partir: guardei no Renoir da memória a aquarela de teus leves passos marcados.
Falar de amor é tão difícil que sempre preferi defini-lo em imagens: a minha preferida é um ninho de pássaros, dentro do qual a mãe alimenta os seus filhotes dando-lhes alimento através da própria boca- uma comunhão impossível de se descrever em palavras
Vale do Paraíba do sul, noite da segunda Quinta-Feira, Novembro de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)