Frente a Frente
Frente a Frente
Um dia, disse-te, aconchegado ao quente afago de teu abraço: “-Depois de ti, não mais quero amar- tu és meu ponto final”
Expliquei-te depois, numa daquelas nossas longas conversas, frente a frente, despidos, literalmente, de qualquer inconveniente,
Que só tu, ouvinte e companheira, capaz de ouvir sem opor barreiras as mais estranhas narrativas, teria o meu amor – incondicionalmente.
Deste-me muito mais do que de mim recebeste. Através de ti, mesmo sem que tu percebesses, moldavas em mim a figura da parceira ideal.
Qual um Colombo intrépido, tu me fizeste atravessar o tenebroso oceano das dúvidas, a todo pano, mesmo temeroso, rumando sempre em frente.
Tua poesia, prenhe de nostalgia, fazia-me sopesar o contraste de teus sonhos com tua férrea disciplina, paradoxo de bailarina – o que chamei de dicotomia.
Tuas histórias juntaram-se as minhas, ambos vindos de terras exóticas; tu vinda de estepes geladas de Europa; eu vindo de tórridas e sertanejas pradarias.
Teus versos são belos, plangentes; os meus são duros: às vezes, cáusticos, outras impertinentes; alguns são doces, tranqüilos – outros vorazes, indecentes.
Assim, meu amor, foi nosso viver na redoma, criada mais de contrastes, guardo de ti o melhor. De mim, nem sei o que tu guardaste.
Numa noite escura chegaste, sem prévio aviso, como se de improviso; em dia claro, promissor, meu amor - tu partiste.
Hoje não sei de teus ares: guardo somente o parâmetro, o Ideal - o resto? Prá minimizar a dor, procuro esquecer - de pronto.
Nestes versos desajeitados, em exíguo espaço também, deixo bem claro, marcado, o quanto te quero bem - embora sempre distante.
Trago-te sempre comigo, guardada aqui bem perto do umbigo - tua bela imagem-tatuagem, quando a procuro eu encontro.
Não cabe choro e nem vela, em trocas assim tão marcantes. Antes uma roda de coco, cantando até ficar rouco, o nosso amor louco e dissonante.
Nunca sabemos direito porque conhecemos alguém em nossas vidas. Nem mesmo a razão deste conhecer, no mais das vezes desavisado. Fica para mima certeza de que o que vale a pena é a qualidade da vivência que tivemos com alguém que até ontem era, para nós, um completo desconhecido, e que amanhã não sabemos se ainda estará presente em nossas vidas.
Vale do Paraíba, manhã da segunda Quinta-Feira de Abril de 2009
João Bosco