ENRUBESCIDO

Era alvorejar no campo.

No ar um forte desejo de vôo se espalhava com a primavera.

O dia se mantinha adormecido,

cinza e frio;

sem sinos,

sem pincéis

e sem fornalhas.

O sol se ocupava em acariciar as outras faces da terra

onde os rios não se congelam e as sombras se multiplicam.

O beija-flor

- menino leve no meio de tão brusco abandono -

olhava a distância sem pensamento algum.

Onde estariam as flores de outrora?

Onde estariam as luzes da aurora?

Onde estaria o passar das horas?

Foi quando a mais delicada das orquídeas

aquecida pelas fornalhas do desejo intenso,

cheia de pétalas voláteis extraídas dos esplendores,

sem pudores,

e a alma pairadora em completa nudez

postou-se ao lado dele, toda promissora,

sob o repique brônzeo dos sinos,

enchendo-lhe os olhos de distâncias

e de asas seus pensamentos.

O beija-flor

enternecido de beijos e flores,

pejou-se todo.