ACALANTO DE AMOR
Meu corpo sente saudade
Do calor do corpo seu,
Olhos que não vêem os olhos
Já que a visão se perdeu,
Com os lábios ressequidos
Entre soluços e gemidos,
Minha voz emudeceu.
O sol que brilhava tanto
Veio a nuvem o encobriu,
Meu sabiá laranjeira
Desfez o ninho e sumiu,
O meu canário cantor
Perdeu as plumas, o vigor,
E do cantar desistiu.
Minha vidraça quebrou,
Meu jardim abandonei,
Minha roseira murchou,
Dálias não mais encontrei,
Açucena não brotou,
O craveiro despedaçou,
Verguei o rosto e chorei.
A deriva sem um norte
Sem velas e, sem o vento,
Perde-se o rumo da vida,
Ao espírito falta o alento,
Exposto a chuva e ao frio
Cabisbaixo e arredio,
Tudo se faz um tormento.
Não queria lhe perder,
Mas sua asa cresceu,
Gavião veio de fora
Nas suas garras a prendeu,
Voou alto e bem distante
Lá pras bandas da vazante,
Pomba rola se perdeu.
Quando a noite vai caindo
Sabemos ser um tormento,
Arrulho não se ouve mais,
Pra não ficar sonolento,
Caneta e papel na mão
Vou rabiscando a canção,
Tirada do pensamento.
Pomba rola foi embora,
Arribou do meu sertão,
À tardinha me aconchego
Pra cantar esta canção,
Dedilhando a viola
É ela quem me consola,
E acalenta o coração.
Rio, 21/04/2009
Feitosa dos Santos