UM MINUTO... APENAS

Meu minuto de prazer!

O mundo inteiro se abate,

a bomba dizima uma aldeia,

um lar se incendeia.

Meu minuto de prazer!

Uma criança implora

um pedacinho de pão,

o presidiário morre na prisão,

uma donzela se suicida.

Meu minuto de prazer!

A existência de duas vidas.

Um beijo acontece no ocaso.

A cortina encobre sombria,

a mesma lâmina fria,

cruel e assassina.

Meu minuto de prazer!

Um segundo, perde-se uma menina,

desfolha-se uma flor,

cai uma folha mansamente,

expira uma ânsia doente.

Meu minuto de prazer!

Passa um cortejo com flores,

rola uma lágrima,

canta um pássaro.

Meu minuto de prazer!...

entre lençóis azuis,

olhos extremamente escuros,

entre absurdos desejos intermináveis.

Meu minuto de prazer!

Entre soluços,

em meio a poemas.

Desce a cortina,

ergue-se a menina,

uma palavra, um gesto qualquer.

O mundo pára no meu egoísmo,

no meu minuto de prazer,

nos braços da menina

que se ergue como mulher.