Outrora
Outrora te guardei em meu peito.
Dei a ti a minha alma.
O teu colo era minha calma.
Meu refúgio, meu ninho.
O teu sabor o meu vinho,
Meu licor, minha cachaça.
Por ti fiz arruaça,
Sem preço, de graça.
Vivi à tua ameaça.
Fui o teu comparsa.
Parceiro no jogo da caça.
Era eu a tua presa e tu me capturavas.
Preso a ti me deliciava.
Matavas-me de gozo, de calor, de fogo...
Ardia às brasas do teu ventre.
Fui o teu delinqüente.
Surrupiei o teu mel,
Foste todo o meu céu.
Quedei-me ao inferno como réu.
Culpado, condenado, fiel.
Não mais te encontrei.
Sumiste de mim
Então me enterrei.
Eu me espanquei
Eu me morri e não ressuscitei.