Pálida Sombria que transborda em lágrimas

Ó pálida sombria! tu és tão lânguida

E o sol apagou-se por teu olhar

(Que brilhou e brilhou uma luz cândida);

E seu espírito lúgubre foi refletido no mar.

Doce rainha que soluça na neve;

Face dorida e molhada de prantos...

Suspira profundamente num sono leve,

Suspira moribunda sob negros mantos!

Donzela da pureza, anjo de amor,

Em sonhos de ventura não te encontrei.

Restam então as trevas e o horror

Da certeza que tenho de que logo morrerei!

A chuva serena tateia o telhado;

As gotas d’ água misturam-se às suas lágrimas.

Tão frio é o seu coração fatigado.

Oh esperança perdida, por que a deixastes em lástimas?!

Está tudo tão obscuro e triste

(Assim vivo morrendo na solidão...)!

As sepulturas me aguardam, mas ainda resiste

O amor que por ti guardo em meu coração.

Ó pálida sombria, agora pranteio

Enquanto vejo Órion brilhar num tom lívido.

Mas não se esqueça, quero sorver do teu seio

O primeiro momento em que me sentirei vívido.

(2006)