Enquanto
 
Enquanto a resposta para meus olhares for à quietude,
Enquanto o meu dolo for desvario,
Enquanto permanecer em meu peito a dor de esquecer o improvável,
Chorarei sorrindo.
Sem esperar que alguém compreenda
Ou questione a razão de olhos tão vivos
Se minha alma adormeceu.

Enquanto o oceano for meu refúgio,
Enquanto em sonhos sou quem quero ser,
Enquanto espero por um sinal,
Sofrerei na calada badalação.
Terei milhares de romances sem futuro,
Sem intimidade ou paixão.
Oca permanecerei, pois ao vazio condenei-me.

Enquanto não puder encarar os fatos,
Enquanto não conseguir perdoar a solidão,
Enquanto os clichês insistirem que sou tola,
Correrei em passos lentos,
Olhando para o relógio sem tempo
E vendo meu rosto mudar.
Não ser mais tão bela.
Não ser mais feita de ilusões.

Enquanto rezar para em borboleta transformar-me,
Enquanto lamentar por patinho feio ser,
Enquanto idolatrar a Cinderela e nem aspirar por uma fada madrinha,
Envaidecerei o medo,
Recebendo elogios vagos,
Não vivendo nada além de espelhos mágicos.
Deformando o que sou.
Deformando o que sinto.

Enquanto não permitir ser bem quista,
Enquanto fingir que seu desprezo não me atinge,
Enquanto arquitetar em um conto de fadas viver,
Fingirei estar feliz por você,
Remoendo os meus ciúmes em timidez,
Presa pelas entranhas da minha vontade secreta.
Não sou nada além de intensa e apaixonada.

Enquanto contar os dias como momentos sem você,
Enquanto enlouquecer de luxúria, mas sem atos,
Enquanto aguardar rodeada por seus cabelos ser para, então, do meu esconderijo sair,
Continuarei assim,
Com um leve brilho ao lhe ver.
Com uma leve sensação de ser sua ao dormir.
Com um leve sorriso ao lhe cumprimentar.
Com um pesado desespero ao perceber que está passando o mundo,
Enquanto permaneço, inutilmente, estática aspirando
Que com uma resposta ao meu silêncio
Ceda a minha redenção.

* Fotografia tirada por mim *

Karla Hack dos Santos
Enviado por Karla Hack dos Santos em 24/03/2009
Reeditado em 24/03/2009
Código do texto: T1503705
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