EROS
mestre
vê como a plantação
que aramos nos ventos de agosto
medra nutrida além dos campos de trigo
já palpita a loura espiga
como um casto seio túrgido
nas manhãs perfumadas de seiva
e rebrilha ao sol as rubicundas uvas
que em breve encherão
nossas bilhas de vinho
ouve mestre
como trila alegre o canarinho
pelas ramas frescas da amoreira
e as codornas ciscam excitadas
entre os canteiros de batatas
a própria lua mestre
alva como uma nádega redonda
parece seduzir a madrugada andarilha
reclinando-se nua em seus travesseiros de trevas
tudo pulsa freme e lateja
nesta estação de libidos vulgares
e só meu peito aderna desamparado
mastro a pique
num oceano movediço
rumo ao nada
mestre
é isto a morte?
o mestre:
tu indagas se estás às portas da morte
enquanto o mundo sorri a teus olhos
enquanto a vida brinca a teus pés
tu indagas se estás às portas da morte
pois te digo que tens as chaves da vida
pois te digo que estás às portas do amor