A última valsa

Deslizando pela sala,

Suavemente,

Vestindo um traje de gala,

Uma jovem dama,

Vinha a se aproximar.

Os olhos que a miravam

Se encantavam...

Apesar do medo e da dúvida,

A dama era linda...

Era ela,

Sua amada,

A muito pela vida roubada...

Não havia como negar.

Pelo chão muito encerado,

Perdiam-se seus passos delicados,

Em meio ao ruge-ruge da seda a deslizar.

E então já próxima,

Ao velho homem que a mirava,

A dama sorriu...

Se ajoelhou e segurou-lhe a mão,

Nodosa, enrugada...

Tudo nele remetia a uma vida já passada,

Tudo nele era cansaço e desilusão...

Foi então que ele perguntou:

"És tu, meu coração?"

E a dama beijou-lhe a mão,

E se pôs a murmurar:

"Sim, meu amor, sou eu...

Depois de tantos anos, vim te buscar."

E com um sorriso ela se ergueu,

Estendendo-lhe ambas as mãos,

Em um mudo convidar...

E quando ele aceitou o convite,

Tomando entre as suas

Aquelas mãos amadas,

Sentiu-se leve,

Sentiu-se flutuar...

E se viu como ela,

Jovem e belo,

Em traje de baile,

Pronto para novamente dançar.

E quando nos braços a tomou,

Enlaçando a fina cintura com uma mão,

Enquanto a outra,

Palma com palma,

Estremecia com o calor a trocar,

Iniciou-se a sinfonia,

Uma última valsa,

Antes daquele mundo deixar...

E quando enfim raiou o dia,

Findou-se a sinfonia...

E na cadeira um velho homem sorria...

Em sua hora derradeira,

Aquela que amara a vida inteira

Fora o anjo que viera lhe buscar.

Zannah
Enviado por Zannah em 08/10/2008
Código do texto: T1218342
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