A última valsa
Deslizando pela sala,
Suavemente,
Vestindo um traje de gala,
Uma jovem dama,
Vinha a se aproximar.
Os olhos que a miravam
Se encantavam...
Apesar do medo e da dúvida,
A dama era linda...
Era ela,
Sua amada,
A muito pela vida roubada...
Não havia como negar.
Pelo chão muito encerado,
Perdiam-se seus passos delicados,
Em meio ao ruge-ruge da seda a deslizar.
E então já próxima,
Ao velho homem que a mirava,
A dama sorriu...
Se ajoelhou e segurou-lhe a mão,
Nodosa, enrugada...
Tudo nele remetia a uma vida já passada,
Tudo nele era cansaço e desilusão...
Foi então que ele perguntou:
"És tu, meu coração?"
E a dama beijou-lhe a mão,
E se pôs a murmurar:
"Sim, meu amor, sou eu...
Depois de tantos anos, vim te buscar."
E com um sorriso ela se ergueu,
Estendendo-lhe ambas as mãos,
Em um mudo convidar...
E quando ele aceitou o convite,
Tomando entre as suas
Aquelas mãos amadas,
Sentiu-se leve,
Sentiu-se flutuar...
E se viu como ela,
Jovem e belo,
Em traje de baile,
Pronto para novamente dançar.
E quando nos braços a tomou,
Enlaçando a fina cintura com uma mão,
Enquanto a outra,
Palma com palma,
Estremecia com o calor a trocar,
Iniciou-se a sinfonia,
Uma última valsa,
Antes daquele mundo deixar...
E quando enfim raiou o dia,
Findou-se a sinfonia...
E na cadeira um velho homem sorria...
Em sua hora derradeira,
Aquela que amara a vida inteira
Fora o anjo que viera lhe buscar.