O penoso trabalho da razão...
A beleza do amor está em sentir,
Jamais em explicar.
Até porque o coração é desobediente...
Não quer explicações sobre o que sente,
Só quer bater, nada mais.
Quanto a isso,
A razão deve ser paciente,
E com carinho orientar...
Afinal, o coração é que nem criança birrenta...
É só dizer "não!" e ele não aguenta:
Faz tudo pra contariar!
Por isso, a razão passa a fazer triagem...
Tentando, de alguma forma,
Paixonites inúteis barrar.
Inúteis para ela...
Que é uma senhora tola e bela,
Que quer a tudo mensurar.
Para mente o amor é suavidade...
Mas se o assunto é paixão...
Pobre mente...
Passa a ouvir só o coração,
Perdendo completamente o rumo.
E a dona razão,
Segurando um fio de prumo,
Tenta tudo alinhar.
E percebendo que o trabalho é em vão,
Se põem a berrar,
Frustrada por não ser respeitada.
E nessa discussão,
A alma fica bagunçada...
E vem o medo de não ser correspondido,
De viver um amor a ser perdido,
De se meter em confusão.
Ainda bem que amor não é feito só de paixão...
Até, porque se fosse,
O circo estava armado.
Você vê isso naquele olhar desesperado,
Que todos os apaixonados te dão.
Mas não desdenho da paixão...
Ela é intensa, mas pode ter vida curta.
Pode não amadurecer para tornar-se amar...
Por isso, alguns podem rezar
Enquanto outros esperam,
Com naturalidade,
Tal transição...
Mas é certo que a dona razão
Fica muito tempo a berrar...
Ao menos até que a paixão se torne amar,
E a pobre descanse um pouco.
Vai dizer que não é trabalho de louco,
Os sentimentos ter que organizar?