Desvario

Na memória dos tempos

escrevi teu nome em letras douradas

e pensei que nunca mais

estarias fora de mim,

que o barco da morte

nos encontraria sempre juntos.

Mas num momento de desvario,

apaguei as letras todas,

e achei que com isso,

poderia logo te esquecer.

Ledo engano que a vida me preparara

mais uma ilusão passageira.

Tentei voltar ao teu aconchego,

pensando ser do amor mensageira,

mas o teu nome há muito se apagara.

Agora vago sozinha em busca

das letras espalhadas ao vento

como se com elas pudesse novamente,

trazer teu ser amado para junto de mim.

Mas estás muito distante,

e depois de tantas lutas para marcar de novo,

o teu nome em meu coração,

conclui que no circo da vida,

há sempre palhaços que se divertem,

escrevendo nomes dourados,

pensando que assim fazendo,

cristalizam o sentimento

que trazem no peito.

Mas o mundo sempre foi

um circo sem igual, com farsas e palhaçadas,

equilibristas e marmeladas,

com mestres de cerimônia

apregoando o maior espetáculo da terra,

e a platéia encantada aplaude

uma bailarina de traços tristes

que traz na mão um cesto de letras

encontradas em noite de lua cheia.

E a delirante platéia vibra

quando o mágico surge e espalha de

novo ao vento as letras,

que transformam-se em borboletas

livres, leves e soltas,

brilhando na escuridão.

O mágico agradece e se retira,

enquanto a amargurada bailarina

ainda procura alguma letra perdida,

que pudesse guardar de lembrança

de um tempo perdido na memória,

para não esquecer que um dia amou

um alguem, cujo entorno

estava fora de seu alcance e portanto

inatingível ao amor.

Santos, SP - 03/03/06

22:51 hs.

Guida Linhares
Enviado por Guida Linhares em 04/03/2006
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