A rosa e o poema
Virgílio deitou por sobre o meu
travesseiro uma rosa vermelha
e um poema camoniano.
Onde o amor repousou, o tempo
santificou o momento da presente
réstia de felicidade.
Mas o Virgílio de hoje é apenas o
ator que encarna uma personagem
de tempos remotos, em Portugal de outrora.
É como se meus olhos levassem à alma
a certeza de que aquele enredo
foi por mim vivido
em outras vidas aquém da
realidade ou da própria fantasia.
No sonho capturei apenas um fragmento
do desejo que a alma por vezes encobre
sob a velha capa de sanidade que
ainda conservo em mim.
Não há mais castelos ou príncipe encantado
que galopa em ágil cavalo branco.
Mesmo assim, por um breve
e único momento,
pude sentir Virgílio com a rosa e o poema
entre as mãos,
pouco antes de deixá-los para mim.