A FILHA QUE AINDA NÃO TIVE

Aos avós, Dona Nina, Tonhé, Geraldão e Neide.

A filha que ainda não tive
Vem dos quatro cantos do meu desejo
Do norte geográfico do meu bem querer
Vem ela toda prosa
Imaginária a mexer pernas e braços
Com pés sujos de terra
Impregnada até a alma de terra
Sob o ritmo das caixas de guerra
Vem São Francisco abaixo
Para de dentro das minas sair
Em serras
Em alma férrea
Serra
Serralheira
A distorcer ferro em terra
Terra em água
Embebida de toda tribo
Quilombo
Quilombola
Que rola
Peiito adentro
E vem descendo terra
Entremeada por solos férreos
E num constante d'água
Em Serras
Mantiqueira
Minas
Regatos
Riachos
E rio de pensá-la
Entre braços
Abraços e cheiros
Quase minha
Deitada no berço de papel
Do querer.
Já tão perto
Estende-se em vale
Em rio que corre manso
Liquída e certa
Vigiada sempre por serras
Serras velhas
Antepassadas e tropeiras
Em direção às cruzes
Do existir
Que sempre são tantas
Às margens do Tietê
E novamente e sempre rio
Sob a vigia do Itapeti
Imersa em águas
Em contornos de rios
Para as fluências e afluências do existir
Vem!
Vem que eu quero niná-la.
DA MONTANHA
Enviado por DA MONTANHA em 29/08/2008
Reeditado em 16/12/2008
Código do texto: T1151322
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