Viver

O desdém usual diante do tédio rotineiro.

A vida levada empurrada pela barriga,

com as mãos no bolso.

Da felicidade sonhada

ejacula as repressões de amores e vontades.

Todas as noites tristes,

todas as noites só.

Procurando numa esperança vaga

a realização de todas as frustrações da alma,

tristezas calmas e desilusões.

Ele faz dela sua luz: pequena, meiga, doce e singela.

Fuga certeira de todas as dores de se viver

com uma tonelada de sonhos nas costas.

Com um sorrisinho de menina travessa e ares de mulher resolvida.

Fatalmente a mais linda de um sonho imaginado.

Na perdição eterna de se amar por completo,

a noite foi longa e do sono nem se teve notícia.

Brincadeirinhas na madrugada,

suspiros de êxtase,

pernas e braços

e o contato imediato com a pele nua de dois amantes ardentes

com o lençol amarrotado de amor.

Infelizmente o sol não deixa de nascer.

Com ele vem a ressaca certeira de ter que se viver a vida:

do terno e o nó na gravata,

do vestido longo preto e informal.

Os compromissos assumidos pela continuidade da vida,

pela coexistência do amor.

A vida e suas engrenagens maquiavélicas,

às vezes exige dos que amam demais,

um momento de lucidez.

Rafael Carvalho
Enviado por Rafael Carvalho em 09/08/2008
Código do texto: T1120359