Viver
O desdém usual diante do tédio rotineiro.
A vida levada empurrada pela barriga,
com as mãos no bolso.
Da felicidade sonhada
ejacula as repressões de amores e vontades.
Todas as noites tristes,
todas as noites só.
Procurando numa esperança vaga
a realização de todas as frustrações da alma,
tristezas calmas e desilusões.
Ele faz dela sua luz: pequena, meiga, doce e singela.
Fuga certeira de todas as dores de se viver
com uma tonelada de sonhos nas costas.
Com um sorrisinho de menina travessa e ares de mulher resolvida.
Fatalmente a mais linda de um sonho imaginado.
Na perdição eterna de se amar por completo,
a noite foi longa e do sono nem se teve notícia.
Brincadeirinhas na madrugada,
suspiros de êxtase,
pernas e braços
e o contato imediato com a pele nua de dois amantes ardentes
com o lençol amarrotado de amor.
Infelizmente o sol não deixa de nascer.
Com ele vem a ressaca certeira de ter que se viver a vida:
do terno e o nó na gravata,
do vestido longo preto e informal.
Os compromissos assumidos pela continuidade da vida,
pela coexistência do amor.
A vida e suas engrenagens maquiavélicas,
às vezes exige dos que amam demais,
um momento de lucidez.