Quando tua alma caiu em minha teia
Quando tua alma caiu em minha teia,
não havia fios dispersos pelo
tempo, apenas o desejo sublimado
em algum lugar do corpo.
Tu falavas em conjunção astral,
signos do zodíaco e acasos afins.
Eu somente refletia tuas palavras,
transformando-as em versos
líricos pouco a pouco relegados
a um erotismo quase profano.
Hoje a alma, encerrada no
dia de ontem, cede lugar a
dois corpos que se querem um,
na transmutação do desejo em
movimento, da fantasia em permissão.
Nos lados opostos da cidade
vivemos um desencontro renitente,
que se faz presente no
labirinto onde habitas.
Somes por alguns dias – horas
a fio na contagem do meu tempo – entregue
à vida prosaica do mundo
lá fora, aos negócios, à mais-valia.
A Bacante espera, como fizeram
as “mulheres de Atenas”,
tecendo seu próprio fio de
Ariadne, refém de um desejo
inconteste e por vezes
dorido e reiterado.
Quisera ela, outrora, a dor
que faz fronteira com o prazer,
sentindo na carne o
toque feroz do macho agora ausente.
Quando tua alma caiu em
minha teia, havia a Poetisa.
Hoje, existe a Bacante.
E tu, onde estás?
Rita Venâncio.