Quando tua alma caiu em minha teia

Quando tua alma caiu em minha teia,

não havia fios dispersos pelo

tempo, apenas o desejo sublimado

em algum lugar do corpo.

Tu falavas em conjunção astral,

signos do zodíaco e acasos afins.

Eu somente refletia tuas palavras,

transformando-as em versos

líricos pouco a pouco relegados

a um erotismo quase profano.

Hoje a alma, encerrada no

dia de ontem, cede lugar a

dois corpos que se querem um,

na transmutação do desejo em

movimento, da fantasia em permissão.

Nos lados opostos da cidade

vivemos um desencontro renitente,

que se faz presente no

labirinto onde habitas.

Somes por alguns dias – horas

a fio na contagem do meu tempo – entregue

à vida prosaica do mundo

lá fora, aos negócios, à mais-valia.

A Bacante espera, como fizeram

as “mulheres de Atenas”,

tecendo seu próprio fio de

Ariadne, refém de um desejo

inconteste e por vezes

dorido e reiterado.

Quisera ela, outrora, a dor

que faz fronteira com o prazer,

sentindo na carne o

toque feroz do macho agora ausente.

Quando tua alma caiu em

minha teia, havia a Poetisa.

Hoje, existe a Bacante.

E tu, onde estás?

Rita Venâncio.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 02/08/2008
Reeditado em 03/08/2008
Código do texto: T1108815
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