ESFINGE DO AVESSO

Tua palavra é som que me faz

Ora dançar, ora meditar

E ecoa pelas entrâncias

De meus labirintos

Por onde ainda não andei.

Tua palavra é afirmação

Um dia dúbia; outro, casual

Mas, quase sempre mortal.

Tua palavra é foice que abre caminhos

Desafiando as verdades do vento.

De que enigmas te despiste

Para decifrares os meus?

(tão antigos, tão guardados...)

E agora são todos teus.

De que aurora saístes

Que não me deste tempo

De tirar minha roupa de noite

Feita de brilhos e marfim

E tu (audaz!) fazes isto por mim.

Eu permito

Porque esse é o meu secreto desejo.

E te entrego o meu corpo

Prenhe de trigêmeas sementes:

- uma, que germina o medo,

- outra, que fecunda o apego,

- e mais outra, grávida do silêncio.

Assim a tua palavra

Que outras vezes é puro metal

Que bate e molda,

Destrói e constrói

É fino aço que rasga a carne

E língua que lambe o sangue.

Tua palavra é barro e cristal.

Zel Soares
Enviado por Zel Soares em 14/07/2008
Código do texto: T1080423