ESFINGE DO AVESSO
Tua palavra é som que me faz
Ora dançar, ora meditar
E ecoa pelas entrâncias
De meus labirintos
Por onde ainda não andei.
Tua palavra é afirmação
Um dia dúbia; outro, casual
Mas, quase sempre mortal.
Tua palavra é foice que abre caminhos
Desafiando as verdades do vento.
De que enigmas te despiste
Para decifrares os meus?
(tão antigos, tão guardados...)
E agora são todos teus.
De que aurora saístes
Que não me deste tempo
De tirar minha roupa de noite
Feita de brilhos e marfim
E tu (audaz!) fazes isto por mim.
Eu permito
Porque esse é o meu secreto desejo.
E te entrego o meu corpo
Prenhe de trigêmeas sementes:
- uma, que germina o medo,
- outra, que fecunda o apego,
- e mais outra, grávida do silêncio.
Assim a tua palavra
Que outras vezes é puro metal
Que bate e molda,
Destrói e constrói
É fino aço que rasga a carne
E língua que lambe o sangue.
Tua palavra é barro e cristal.