O Cangaceiro Apaixonado

Sou jagunço das letras: traço-as sem piedade,

palavra-lâmida.

Um poema de pouca valia

- de riso me riem -

mas tenho que de alma sou facínora.

Ávaro e rude do viver com luxo,

sustento máscara

para que não me vejam a fome,

mas quando canto

até meu cavalo se ajoelha pra escutar...

Ah, seu moço!

A inveja é algo que arde até no coração de um bruto.

Dizem por aí que foi Deus descuidado ou teve erro,

quando me deu perneiras de prata e tanta valentia.

E sabem que tenho talento de tornar rubros

até os heróis mais discretos.

Lá no meu Sertão ninguém procumbe,

a não ser que eu conceda este mergulho de pó.

Ah, seu moço! Sou macho de lapidar feras. Mas é no rigor

das sandálias que tenho meus dissabores: Belinha

só por capricho me faz tomar banho sem ser domingo.

E ainda tenho que usar uma flor no gibão.

Djine klein