CORSÁRIO

Ainda que me ceguem os olhos

seguirei imaginando-te sempre.

Talvez me prendam

na cela dos rancores

- aquela que emudece

o amanhã.

Com pincéis imaginários

na tela da memória

pintarei teu rosto claro

como a estrela da manhã.

No navio do exílio

em breve estarei,

quem sabe condenado

pela afronta de querer-te,

querer-te mais

que o próprio rei.

Virá em meu auxílio

- tenho certeza -

o encanto

que já nasceu quedado

a acompanhar-me

feito guardião,

para afastar de mim

o perigo dos sete mares.

Sobreviverei incólume,

até inflar o peito

com aromas de perplexidade,

por saber-te vagando ainda

dentro do meu pensamento

entre correntes

que não prendem meus ares

de temível apaixonado.

Saltarei à frente do motim

para incendiar

o navio-prisão

e abrir as portas

da liberdade.

Voltarei para perpetrar

o destino clássico

dos aventureiros:

saquear o reino dos tiranos,

apoderando-se da jóia

mais valiosa...

teu coração clamando

pelo amor de tantos anos

guardados no âmago

das tempestades.

Flavio Villa Lobos
Enviado por Flavio Villa Lobos em 16/06/2008
Código do texto: T1036387
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