Só não pode faltar o amigo

sentado em meu verde quintal,

pensando nas ausências da vida,

sentindo uma dor abissal,

quase sem rumo, sem guarida.

carrego um ardor no coração,

movido a uma vã desilusão.

um sofrer que não tem sentido,

que me deixa sem chão.

e, num repente, uma voz cicia em meu ouvido:

lembre-se, você tem o seu amigo!

e a dor insiste em me perseguir,

a doença que está por vir,

uma mácula deste ente sofrido

e, combalido, não consigo reagir.

e, num repente, uma voz cicia em meu ouvido:

lembre-se, você tem o seu amigo!

coloco as mãos no bolso vazio

e percebo, em mim, um cala frio.

a certeza de um homem perdido,

sem presente e com um futuro sombrio.

e, num repente, uma voz cicia em meu ouvido:

lembre-se, você tem o seu amigo!

pensei em tantas faltas, tantas ausências

e, me perdi nas reticências...

mas, entendi, veementemente, o que a voz me dizia.

pode faltar amor, faltar saúde, estar de barriga vazia,

só não pode faltar, carinho, afago, palavras e abrigo

daquele que é, verdadeiramente, seu amigo!