Um bichano, um vinho, uma varanda, um amigo


Eu quis,
Estar na varanda na hora sexta.
Ver o sol se por atrás da fábrica.
Quis a taça cheia de vinho merlot
Tendo de um lado a gata,
Do outro o seu calor.

Enquanto o brilho do sol se escondia,
As nuvens cheias de tons e diversos formatos
Ganhavam minha alma sedenta
De compreensão pelo dom da amizade.

A brisa fresca da tarde de verão cortava a varanda.
Tocava o bichano, os rostos e as taças.
Assobiava no gargalho da garrafa
E selava nossa afeição para sempre.

Entre frases sem nexos e versos
A mente era povoada por sentidos.
Não era mente sã – daquelas que vê o interesse.
Era mente doente de compaixão – coisa de cristão.

Não pude traduzir os sentimentos.
O vinho tinha tomado a razão.
Mas não era preciso dizer nada.
Havia ali, o meu sentido de viver:
Um amigo, uma varanda, um bichano e o vinho...
Cor de sangue... cor da alma... cor do coração.

Eu quis eternizar o momento.
Parar o sol, o vinho e o movimento.
Quis deixar o tempo suspenso
Pra ter tudo isso pra sempre.
Sem perdas e nem ressentimentos.

Mas como o sol se pôs,
A garrafa secou e bichano correu.
Sobrou você e eu...
Na memória, as nuvens e a brisa,
Na cadeira da varanda – a imagem do amigo meu.