O voo dos pássaros feridos
Pássaros feridos
Nunca mais
Irão voar
Porque mesmo depois de curados
Insistem que dói
O que até os impede de andar
Insistem que está aberta
O que não passa
De uma velha cicatriz
Não parando de abrir
Uma imaginária ferida
Não parando de lhe tocar
Não parando de a olhar
Arranjando com isso um motivo
Para no abismo não se voltarem a lançar
O abismo
Onde está a sua natureza
Porque a sua essência só se materializa no ar
O ar
O abismo
Que estão destinados a conquistar
Mas não o fazem
Nunca mais o irão fazer
Porque as asas supostamente feridas
Não as deixam abrir
Insistem em encolher
Eles esquecem-se
Que não é o abismo
Que os pode matar
É o medo
Que os paralisa
E impede de tudo
Menos da ferida invisível
Continuarem a contemplar
Esquecendo-se também
Que um pássaro no chão
É mais fácil de matar
Um pássaro no chão
É um nada
Que qualquer um pode esmagar
Eles deviam-se lembrar
Nunca se deveriam ter esquecido
Que existe um local
Onde cada um
Está protegido
Um local
Onde não existem pedras
Onde podem tropeçar
Cantos
Onde se podem magoar
Paredes
Com as quais podem chocar
Esse local
Foi onde nasceram
É aquilo
Para que foram concebidos
O único sítio impossível
Real
Onde o teu sonho
Pode ser também o meu
O local que esqueceste
O meu
O nosso
Céu