Naquelas madrugadas…

Desconstruímos de forma paulatina

Calma e descontraída

O que levou anos

E demasiado empenho a construir

Mas na incapacidade

De assumirmos que o sonho se tinha desmoronado

E de pura e simplesmente

Dar o assunto por encerrado

Preferimos nós próprios sabotarmos

Algo de belo

Mas que nunca devia ter começado…

Transformámos crença

Em cinismo

Amor

Em apenas uma forma de se poder dormir apaixonados

E apesar de apenas nos ligar um ao outro os nossos corpos

As nossas consciências estavam aliviadas

Por dizermos que estávamos apaixonados…

E nas derradeiras madrugadas

Havia uma estranha paz

Não havia problemas

Não havia qualquer tipo de discussão

Porque já não havia nada para destruir

Há muito

Que o nosso mundo entrara em implosão…

E assim

Vivíamos nas sombras

Dormíamos sobre cinzas

Pela incapacidade de adaptação

Ao que tinha inevitável e para sempre mudado

Continuando em silêncio uma guerra há muito terminada

Usando afectos

E não espingardas

Pela incapacidade em não vermos que nada restava

Prolongando a ilusão

Naquelas madrugadas…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 13/08/2012
Código do texto: T3827742
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