Naquela Nossa Madrugada…
Disseste-me
No tempo das minhas dúvidas existenciais
No tempo de todas as dúvidas
No tempo daquela nossa canção
Que o Idealismo
É uma forma de nos mantermos jovens
E não um mero estado de transição…
Que nunca perderíamos a paixão
Pelo assistir aos belos nascer do sol
Que estes seriam sempre belos
E que a sua magia nos iria acompanhar
Até ao nosso último madrugar…
Ser algo de incorruptível
O prazer de conhecermos alguém
Que manteríamos a alma sempre aberta à novidade
Pois isso era um dom com que tínhamos nascido
E que nos iria acompanhar por toda a eternidade…
E no entanto
À medida que as minhas dúvidas
Se transformaram em fortalezas
Que a nossa canção
Deixou de ser uma novidade
Para agora só aparecer em programas
Nos quais se faz o culto
E se mata a saudade da nossa geração
O idealismo transformou-se em mim num estado permanente
Que agora é a minha marca de resistência
Esqueceste a música
E substituíste os estados de alma dos verdes anos
Por uma descrença
Uma rendição
Um trivial cinismo…
Renegas as madrugadas
E forças o sono
Só para encontrares o sol já maduro
Tentando esquecer
Que o apreciar da aurora
É uma forma de amor eterno pela existência
Impuseste a ti própria uma lobotomia
Que te faz estar numa bem clara
Das coisas que sempre valerão a pena
Distante
E cruel abstinência…
Encarando cada rosto novo
Com um tédio
Que disfarças
Com a diplomacia da idade
A diplomacia social
Que te faz perante o resto do mundo
Seres a ele igual
Mas que te faz sentir vazia
Que te faz sentir sem nada
Embora tenhas tudo
O que é suposto hoje teres
Mas não deixas de sentir o tal vazio
Cada vez que te revês no teu espelho privado do tempo
No qual já não entra o meu reflexo
Mais uma jura perdida
Mais uma palavra rasgada
Dita na altura em que jurámos conquistar o mundo
Dita
Naquela Nossa Madrugada…