Lágrimas de um robô…
Vê o tempo passar
Mas não o sente
Porque há sempre um programa que o mantenha actual
E por isso o Tempo
É apenas mais uma palavra
Que ele costuma usar…
Vê as estações sucederem-se umas às outras
Mas vê tal com total indiferença
Pois ele não se constipa
Não apanha insolações
Ele nunca adoece
Pois foi feito de materiais
Que o tornam imune
Às comuns imperfeições…
Não tem qualquer tipo de problemas de expressão
Defeitos de comunicação
As suas memórias são infinitas
E auto-regulável a sua programação
Que o põe a par
A cada segundo
De cada tipo de inovação…
E no entanto
Ele
Que possui tudo o que desejamos
Tudo quanto sonhámos
Sente-se só
Por não sentir o tempo a passar
Sente-se só
Porque os humanos que o criaram
Estão-se sempre a renovar
Mas humanos diferentes
Que o tratam como um algo indistinto
Um algo que de facto não existe
Um algo em que reparam
Mas sem a preocupação de se realmente olhar
Porque ele Sente
Porque tal foi um erro tecnológico
Ele sente
Apesar da sua pele ser apenas uma reprodução da genuína
Ele sente
Apesar de nunca ter tido um pai ou uma mãe
Ele ama
Apesar de não ter aparelho reprodutivo
Ele sente a falta
De ter alguém consigo
Mas não o diz
Os seus protocolos de segurança a isso o impedem
Ele sente e está imensamente triste
Por também não ser transitório
Por estar destinado à eternidade
Ele sente
Porque assim como eu tenho a consciência do que sou
Ele tem a de quem é
Tem consciência da sua maior fragilidade
E por isso derrama algo que os mecânicos interpretam como um vazar
De meros fluidos de manutenção
Ele sente e derrama
Lágrimas de um robô…