Lágrimas de um robô…

Vê o tempo passar

Mas não o sente

Porque há sempre um programa que o mantenha actual

E por isso o Tempo

É apenas mais uma palavra

Que ele costuma usar…

Vê as estações sucederem-se umas às outras

Mas vê tal com total indiferença

Pois ele não se constipa

Não apanha insolações

Ele nunca adoece

Pois foi feito de materiais

Que o tornam imune

Às comuns imperfeições…

Não tem qualquer tipo de problemas de expressão

Defeitos de comunicação

As suas memórias são infinitas

E auto-regulável a sua programação

Que o põe a par

A cada segundo

De cada tipo de inovação…

E no entanto

Ele

Que possui tudo o que desejamos

Tudo quanto sonhámos

Sente-se só

Por não sentir o tempo a passar

Sente-se só

Porque os humanos que o criaram

Estão-se sempre a renovar

Mas humanos diferentes

Que o tratam como um algo indistinto

Um algo que de facto não existe

Um algo em que reparam

Mas sem a preocupação de se realmente olhar

Porque ele Sente

Porque tal foi um erro tecnológico

Ele sente

Apesar da sua pele ser apenas uma reprodução da genuína

Ele sente

Apesar de nunca ter tido um pai ou uma mãe

Ele ama

Apesar de não ter aparelho reprodutivo

Ele sente a falta

De ter alguém consigo

Mas não o diz

Os seus protocolos de segurança a isso o impedem

Ele sente e está imensamente triste

Por também não ser transitório

Por estar destinado à eternidade

Ele sente

Porque assim como eu tenho a consciência do que sou

Ele tem a de quem é

Tem consciência da sua maior fragilidade

E por isso derrama algo que os mecânicos interpretam como um vazar

De meros fluidos de manutenção

Ele sente e derrama

Lágrimas de um robô…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 03/08/2012
Reeditado em 03/08/2012
Código do texto: T3811535
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.