Noite na Terra…
Em vez de ser a noite a cair
Sobre a terra caiu um enorme ponto de interrogação
Colocou-se tudo em dúvida
Até o fim da nossa civilização…
Nas ruas andam pessoas de olhos negros
Que olham para nós sem nos verem
Olham para nós como sombras
Olham para o que aparentamos ser
É invisível a elas o que nos faz humanos
A nossa interioridade
São pessoas apenas de nome
Pois nelas só possuem a forma da humanidade…
Acendo um cigarro
E noto desanimado
Só ver dois pontos de luz
Dois pontos de luminosidade
Um deles é um que me mata lentamente
O outro é o que me separa das trevas
E que me faz ainda acreditar
O outro és tu
Que o que me resta da fé no que já fomos
Persistes em alimentar…
Olho para os teus olhos
E peço-te com os meus que verbalizes o que sentes
Mas a tua voz
Tal como o brilho na tal humanidade
Está perfeitamente ausente…
Descubro então a luz
Num gesto de afecto
Que noutras alturas seria banal
Trivial
Descubro a luz num beijo que te dou
Por carinho
E também por desespero
E ao devolveres tal
Descubro que a fé não irá morrer
Nunca irá morrer
Enquanto um homem
Continuar a amar uma mulher
Pode então cair a Noite sobre a Terra
De uma forma literal
E não apenas num mero poema
Podem cair todas as trevas
Não me importo
Pois enquanto o afecto entre humanos existir
Nem que seja entre dois
Sei que tudo valerá ainda a pena…