Noite na Terra…

Em vez de ser a noite a cair

Sobre a terra caiu um enorme ponto de interrogação

Colocou-se tudo em dúvida

Até o fim da nossa civilização…

Nas ruas andam pessoas de olhos negros

Que olham para nós sem nos verem

Olham para nós como sombras

Olham para o que aparentamos ser

É invisível a elas o que nos faz humanos

A nossa interioridade

São pessoas apenas de nome

Pois nelas só possuem a forma da humanidade…

Acendo um cigarro

E noto desanimado

Só ver dois pontos de luz

Dois pontos de luminosidade

Um deles é um que me mata lentamente

O outro é o que me separa das trevas

E que me faz ainda acreditar

O outro és tu

Que o que me resta da fé no que já fomos

Persistes em alimentar…

Olho para os teus olhos

E peço-te com os meus que verbalizes o que sentes

Mas a tua voz

Tal como o brilho na tal humanidade

Está perfeitamente ausente…

Descubro então a luz

Num gesto de afecto

Que noutras alturas seria banal

Trivial

Descubro a luz num beijo que te dou

Por carinho

E também por desespero

E ao devolveres tal

Descubro que a fé não irá morrer

Nunca irá morrer

Enquanto um homem

Continuar a amar uma mulher

Pode então cair a Noite sobre a Terra

De uma forma literal

E não apenas num mero poema

Podem cair todas as trevas

Não me importo

Pois enquanto o afecto entre humanos existir

Nem que seja entre dois

Sei que tudo valerá ainda a pena…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 29/06/2012
Código do texto: T3750678
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.