Naquela Manhã…
Acordámos abraçados
Juntos
Naturalmente
Mas na realidade
Nunca até ali estivéramos tão separados…
Não pelo que tínhamos acabado de viver
O acto supremo da criação
Onde dois foram um
Desafiando toda a lógica da imaginação…
Não pelo que tínhamos dito
Mas sim pelo que tínhamos sentido
Porque apesar de gostarmos
Eu senti que o meu lugar não era contigo
E o teu comigo
Amávamo-nos sem dúvida
Mas tendo cometido o maior erro sensitivo
Porque o amor é uma plenitude
E não um mero porto de abrigo…
Um porto que abandonávamos
Cada vez que as feridas eram curadas
Um porto ao qual regressávamos
Quando nos sentíamos magoados
Num algo redundante
Que tenderia a repetir-se para toda a eternidade
Pois não concebíamos a vida sem mágoas
Eram estas que davam valor às nossas alegrias
Mas éramos incapazes de partilhar estas
Com quem realmente nos causava a dor
Com quem realmente amávamos
E assim nos procurávamos
Para nos curarmos
Não como amantes
Mas como pacientes
Ignorando que mais do que uma cura
Tal nos faria ainda mais doentes
Pela vontade impossível
Da cura ser mais do que isso
Fazer parte do outro todo existencial
Mas sabíamos bem demais
Que se ficássemos para além da manhã
Essa cura
Iria transformar-se numa alegria
Essa cura iria nos fazer mal…