Naquela Manhã…

Acordámos abraçados

Juntos

Naturalmente

Mas na realidade

Nunca até ali estivéramos tão separados…

Não pelo que tínhamos acabado de viver

O acto supremo da criação

Onde dois foram um

Desafiando toda a lógica da imaginação…

Não pelo que tínhamos dito

Mas sim pelo que tínhamos sentido

Porque apesar de gostarmos

Eu senti que o meu lugar não era contigo

E o teu comigo

Amávamo-nos sem dúvida

Mas tendo cometido o maior erro sensitivo

Porque o amor é uma plenitude

E não um mero porto de abrigo…

Um porto que abandonávamos

Cada vez que as feridas eram curadas

Um porto ao qual regressávamos

Quando nos sentíamos magoados

Num algo redundante

Que tenderia a repetir-se para toda a eternidade

Pois não concebíamos a vida sem mágoas

Eram estas que davam valor às nossas alegrias

Mas éramos incapazes de partilhar estas

Com quem realmente nos causava a dor

Com quem realmente amávamos

E assim nos procurávamos

Para nos curarmos

Não como amantes

Mas como pacientes

Ignorando que mais do que uma cura

Tal nos faria ainda mais doentes

Pela vontade impossível

Da cura ser mais do que isso

Fazer parte do outro todo existencial

Mas sabíamos bem demais

Que se ficássemos para além da manhã

Essa cura

Iria transformar-se numa alegria

Essa cura iria nos fazer mal…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 13/06/2012
Código do texto: T3721339
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