Na Cidade…
Nada nos falta
Nada nos pode faltar
Não sentimos a necessidade de nada externo
Pois para nós
Que lá vivemos
Temos um céu particular…
Um céu onde as estrelas que brilham
São as estrelas da modernidade
Luzes imensas e belas
As luzes da publicidade…
Temos não um mundo
Mas um inteiro universo à disposição
Babel que se cruza nas ruas
Pois aqui se cruzam todos os povos da nossa vasta civilização…
Somos pois de todos
O povo mais iluminado
Precisamente
Porque é o povo mais saciado…
E no entanto
Sinto a falta de outras luzes
Sinto a falta do toque natural
Da natureza
Que encerrada em embalagens devidamente normalizadas
Dos nossos centros comerciais
É uma natureza formatada
E eu sinto a falta da sua diversidade
Das suas diferentes cores
Mesmo as mais feias
Das suas desigualdades
Que nunca nos serão mostradas
Porque não cabem na norma de quem escolhe o que devemos consumir
E o feio
Ou o menos belo é censurado
Porque não se enquadra no padrão do belo delineado
E é por isso que sinto a falta da diferença
Sinto a falta de olhar para o céu
E ver estrelas
Sem que estas me queiram obrigar a consumir algo
Sinto a falta da simples contemplação
Onde se contempla por contemplar
Sem qualquer tipo de outra intenção
Sinto a falta de te ver lá
E se não te encontrar
Ter que esforçar a imaginação
E não
Saber sempre onde te posso encontrar
Porque na cidade
Há sempre uma forma de te localizar
Ao passo que fora dela
Para fazer tal
Tenho que realmente puxar pela cabeça
Tenho
Temos
Que nos recriar…