Na Cidade…

Nada nos falta

Nada nos pode faltar

Não sentimos a necessidade de nada externo

Pois para nós

Que lá vivemos

Temos um céu particular…

Um céu onde as estrelas que brilham

São as estrelas da modernidade

Luzes imensas e belas

As luzes da publicidade…

Temos não um mundo

Mas um inteiro universo à disposição

Babel que se cruza nas ruas

Pois aqui se cruzam todos os povos da nossa vasta civilização…

Somos pois de todos

O povo mais iluminado

Precisamente

Porque é o povo mais saciado…

E no entanto

Sinto a falta de outras luzes

Sinto a falta do toque natural

Da natureza

Que encerrada em embalagens devidamente normalizadas

Dos nossos centros comerciais

É uma natureza formatada

E eu sinto a falta da sua diversidade

Das suas diferentes cores

Mesmo as mais feias

Das suas desigualdades

Que nunca nos serão mostradas

Porque não cabem na norma de quem escolhe o que devemos consumir

E o feio

Ou o menos belo é censurado

Porque não se enquadra no padrão do belo delineado

E é por isso que sinto a falta da diferença

Sinto a falta de olhar para o céu

E ver estrelas

Sem que estas me queiram obrigar a consumir algo

Sinto a falta da simples contemplação

Onde se contempla por contemplar

Sem qualquer tipo de outra intenção

Sinto a falta de te ver lá

E se não te encontrar

Ter que esforçar a imaginação

E não

Saber sempre onde te posso encontrar

Porque na cidade

Há sempre uma forma de te localizar

Ao passo que fora dela

Para fazer tal

Tenho que realmente puxar pela cabeça

Tenho

Temos

Que nos recriar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 29/05/2012
Código do texto: T3693693
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