Nós...

Não faço

Planos para amanhã

Porque o amanhã é hoje

O amanhã já está a acontecer

E se fizer planos para ele

Acabo por me esquecer de viver…

Recuso aquele copo

O que pode ser determinante

Mas o que pode ser também excessivo

Porque no meio de palavras

Que deveriam ser de redenção

Ou meramente de aproximação

A aproximação final

Temo

Que saia desse copo o errado

Em vez do certo

E no fim desse copo

Não te tenha comigo…

Acedo ao politicamente correcto

Resistindo à tentação

De dizer o que sinto

Embora me peças para o fazer

Porque por vezes

A maior parte das vezes

Mais vale seguir um guião

Do que trilhar

Os delicados caminhos

Da improvisação

Onde o que se diz

Tem que ser bem pensado

Tem que seguir caminhos já trilhados

Para se obter com segurança

Os resultados esperados…

Tenho que desligar o nosso reactor

Porque reagimos demais

Os átomos entram demasiado facilmente em ebulição

A matéria desagrega-se

Os átomos espalham-se por todo o lado

E o que predomina no fim

Não é a justiça

O entendimento

A razão

É uma nuvem

Uma mera nuvem do que fomos

Uma nuvem de radiação

E quando o tempo passar

De nós

Em nós

Essa nuvem

Se não for parada

É o que teremos de nós como mera recordação…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 26/05/2012
Código do texto: T3688607
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