Naquela Madrugada…
No lusco-fusco da noite
E da noite que impuséramos a nós
Sentia que abraçava o mundo
E apesar de estares colada a mim
Sentia-me de uma forma insustentável
A roçar
A tocar
O insuportável
Sentia-me só…
Sentia que tinha que correr para ti para te alcançar
Apesar da distância ser demasiado curta
Porque de facto
Não parava de te tocar…
Mas sentia
Que para tocar no que me interessava
No que era o nosso interesse comum
A tua interioridade
Demasiado reservada
Que para ser salva
Deveria ser comigo partilhada
Teria que percorrer
E conseguir ultrapassar
O imenso espaço que nos separava…
Porque um dia te tinha prometido
Que em circunstância alguma te iria abandonar
E muito menos deixar
Mas naquelas horas deparei com o meu maior adversário
Tu
E pensava
Como se pode salvar alguém
Que se recusa a ser salvo
Como debelar um sofrimento alheio
Quando quem por ele é afligido
Não vê nele tal
Vê nele uma espécie bem distorcida de salvação?
E assim
Naquela madrugada
Procurei
Até o dia chegar
Aquilo que me recusava a ver
A inexistência de uma solução
E por isso definhei lentamente por dentro
Por ter descoberto
Que é mais curta a distância que nos separa de outras galáxias
Do que aquela
Que separava a tua mente
Que me ignorava
Do teu coração
Que de forma inegável me amava
Naquela momento decisivo
Naquela Madrugada…