Alerta nuclear…
É de madrugada
E encontro-me nas ruas da minha cidade
Andando de forma aleatória
Em plena fusão
Mental
E sinto que física
Depois de te ter deixado a falar sozinha
Depois de mais uma
Violenta
Inútil
Estúpida
Discussão…
Ouço de repente um alarme
Bem típico dos meus tempos de infância
Um alarme de Alerta Nuclear
Que nos foi ensinado
Que era um sinal de aviso
Antes da morte chegar dos céus
Antes de tudo ir acabar…
Estranho o anacronismo
Nestes tempos
Onde as guerras são regionais
De baixa intensidade
Que matam não globalmente
Mas a nível local
Mas mesmo assim procuro salvar-me
Procuro um abrigo…
E então
Por ironia das ironias
A primeira porta que acho que me parece segura
É o local
De onde vem o som
Do alerta nuclear…
Mas lá todos dançam
Todos bebem
Todos se divertem
E sinto-me parvo ao reparar
Que o tal alarme nuclear
É apenas mais um som
Resgatado no tempo
Para esse bar
Melhor publicitar…
Decido entrar no jogo
E esquecer o que me levou ali
Procuro uma bebida forte
Para as mágoas dissipar
Mas a bebida mais forte que há
Tem o nome
De um velho bombardeiro nuclear…
Mas bebo
Bebo a ironia
Bebo esse líquido
De conteúdo desconhecido
Reparando que nesse gesto
Algo abstraído
Alguém olha para mim
Alguém está comigo
Retribuo o sorriso
E torno familiar
Esse rosto que não conheço
Sabendo que mais tarde
Depois de mais copos daquele líquido
Ao lado dela irei acordar
Sem o nome dela
Me lembrar
Tendo apenas o teu
Que não me sai da cabeça
Mas cumpri então o meu objectivo
Atingi a fusão plena
Onde os meus átomos se separaram
Para com os raios do sol
Se voltarem a encontrar
Sinal
Para eu voltar para ti
Para um afecto
Matizado pelas tais discussões
Que dai a pouco tempo
Irão degenerar
Na vontade de nova fusão
E num novo
Alerta nuclear…