Chovia...naquele dia, chovia…
E eu fazia as contas
Ao frio
Que entre nós havia
Apesar de estarmos encostados um ao outro
Enquanto
Chovia…
E eu acendi um último cigarro
E partilhei tal nos teus lábios
Derradeiro gesto de confraternização
Inútil
O último cigarro
De dois condenados
À nossa morte
Vazios sentidos
Apesar de estarmos abraçados…
E assim chovia por fora
Um horrível temporal
Chovia dentro de nós
Porque juntos
Nos sentíamos insustentavelmente sós
Camaradagem
Que se tinha esvaído
E que ao invés de fazer bem
Enquanto chovia naquele dia
Nos fazia mal…
E a única coisa que éramos
Naquele derradeiro momento
Era a partilha
De algo
A partilha de um ritual
Que assinala sempre o fim de algo
Se partilhado naquele sentido
Era uma comum
Uma recíproca solidão
Porque um e outro
Nos fecháramos em muros de silêncio
Exilando bem longe
Para sempre
Qualquer tipo de comunicação
Porque ali estávamos à chuva
Mas estávamos meramente por estar
Pois eu estava em qualquer lado
Mas não estava contigo…