Mais pelo vício da rotina do que por falta de lucidez…
Achávamos piada
E gostávamos de ver os anjos no ar
Quando na realidade
Era apenas mais um avião que este estava a rasgar…
Deliciávamo-nos com as sereias
Vendo estas nas águas
A cantarem
E a dançarem
Fazendo de propósito
Para não vermos que do outro lado das barbatanas
Não estava metade de um corpo humano
Mas sim o de um golfinho
Que a sua voz
Vinha de um rádio
De um barco vizinho…
Líamos poesia
E sentíamo-la
Como nossa
Pela força das suas palavras
De tão sentidas que o eram
Omitindo o facto
Que eram fruto de uma mente bem ébria e amarga
Que não as escrevia para os leitores e leitoras
Mas sim para afogar as suas mágoas…
Acreditávamos
Que tudo o que dava nos media
Era bem real
Preferindo não ver
Que tudo não passava de uma ficção
Que nos cegava a mente
Mas que nos fazia bem ao coração…
Olhávamos um para o outro
E sabíamos que o amor
A amizade
Que sentíamos um pelo outro
Iria durar para sempre
Mentira bem mais descarada do que as outras
Mas tal realmente não interessava
Interessava
Que os momentos que vivíamos
Eram reais
E o que tínhamos
Era algo de plausível
Era algo
Que no meio de tantas dúvidas
Era algo que estava presente…