Mais pelo vício da rotina do que por falta de lucidez…

Achávamos piada

E gostávamos de ver os anjos no ar

Quando na realidade

Era apenas mais um avião que este estava a rasgar…

Deliciávamo-nos com as sereias

Vendo estas nas águas

A cantarem

E a dançarem

Fazendo de propósito

Para não vermos que do outro lado das barbatanas

Não estava metade de um corpo humano

Mas sim o de um golfinho

Que a sua voz

Vinha de um rádio

De um barco vizinho…

Líamos poesia

E sentíamo-la

Como nossa

Pela força das suas palavras

De tão sentidas que o eram

Omitindo o facto

Que eram fruto de uma mente bem ébria e amarga

Que não as escrevia para os leitores e leitoras

Mas sim para afogar as suas mágoas…

Acreditávamos

Que tudo o que dava nos media

Era bem real

Preferindo não ver

Que tudo não passava de uma ficção

Que nos cegava a mente

Mas que nos fazia bem ao coração…

Olhávamos um para o outro

E sabíamos que o amor

A amizade

Que sentíamos um pelo outro

Iria durar para sempre

Mentira bem mais descarada do que as outras

Mas tal realmente não interessava

Interessava

Que os momentos que vivíamos

Eram reais

E o que tínhamos

Era algo de plausível

Era algo

Que no meio de tantas dúvidas

Era algo que estava presente…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 22/03/2012
Código do texto: T3569047
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