Não fazemos questão…
De falarmos e escrevermos correctamente
Fazendo tal ao contrário
Seguindo um velho método
Um velho código
Quase ancestral
Onde comunicando
Dizemos mais do que queremos dizer
Sem que ninguém
Tal realmente
Claramente possa entender…
Não por vício
Ou disfunção emocional
Simplesmente
Porque não gostamos de mostrar tudo que nos trás por cá
Embora pouco tenhamos a esconder
Servindo esse código
Apenas
De certas vicissitudes da vida nos proteger…
E por isso
Quando caminhamos sós
Dizemos que estamos sempre acompanhados
Porque o estamos
De facto
Porque basta pensar em ti
Para saber
Que do outro lado de tudo
Estás ali a meu lado…
E por isso
Escrevemos
E dizemos coisas propositadamente banais
Coisas vazias
De rápido e descartável consumo
Quando nas entrelinhas
Nos espaços brancos dessas mensagens
Escrevemos cartas de amor
Que depois de percepcionadas
Ficarão para toda a eternidade
Na mente de quem as lerá
Não de quem
Por agora cá está
Cartas de amor não assumidas
Camufladas de palavras de amizade
Cartas de amor protegidas
Porque um Deus alternativo
Nos deu essa faculdade
Cartas de amor
Que depois de sentidas
Nelas se sentem
Toda a força
Da nossa escondida
Poderosa
Mas ao mesmo tempo frágil
Aparentemente distante
Sensibilidade…